Festival de música e armorial (?)

            O resultado desse III Festival de Música da Paraíba gerou muitas discussões. E não podia ser diferente. Queria ter condições de falar tudo o que eu penso sobre o festival como um todo, sobre o resultado e sobre todas os debates relacionados. Mas não sei se tenho como, é muita coisas pra se falar... Vou pensar sobre essa frase que um amigo meu escreveu no Twitter; não lembro as exatas palavras, por isso não abrirei aspas. Parafraseando-o, o festival teria se desvinculado da retrógrada estética armorial. Complicado...
            A primeira coisa que pensei sobre isso - acho que demonstra o grande equívoco da frase - foi "como pôde o festival se desvincular da estética armorial se em nenhum momento esteve vinculado as tais ideias?" O ganhador, merecido - para a birra de todos que bateram o pé e espernearam -, dos dois primeiros festivais foi Chico Limeira com músicas que não me pareceram nem um pouco retrógradas. Por favor, alguém me mostre o que tem de retrógrado nas suas músicas. Acho que a única música que estaria ligada ao armorial - e olhe lá - que o festival premiou, até agora, foi Sopro da Loca da Banda Avuô (em homenagem a Zabé da Loca), que ficou em terceiro lugar na primeira edição. Seria forçar demais a barrar dizer que é armorial a música de Yuri Gonzaga, Pandeiro, premiada na segunda edição. Sim, muitas música que foram selecionadas para as eliminatórias, em todas as edições, estão ligadas de certa forma à estética armorial. Mas, ora, isso é a música nordestina; é importante lembrar que ela já existia antes do armorial e não o contrário; a fonte primária continua sendo o universo musical nordestino de séculos atrás; nem poderíamos nos esquecer da influência, mais moderna, do forró, do brega, do manguebeat.
                O festival em geral não é - ou não era pra ser - retrógrado. Me parece, na verdade, que é atendida a lógica do evento popular, do espetáculo, para chamar atenção de um público cada vez maior. Basta reparar a forma canção que exaustivamente é contemplada pelas curadorias. O festival, portanto, é da canção. Ouso dizê-lo também porque percebo que é dado um peso muito grande - ás vezes até maior - à mensagem das letras, à poesia dos versos. Mas não, isso não pode ser rotulado como retrógrado... Muito menos a ideia de "grandes festivais" com apelos políticos (não discutirei se o festival deve ou não ter apelo político por si só).
          Mas se a gente quiser muito - mas muito mesmo - dizer que esse festival é retrógrado, deveríamos acusar a banda. Eu sou fã da banda; estão ali verdadeiros anciões da música paraibana. Mas tenho de reconhecer que sua sonoridade é, em alguns aspectos, retrógrada. Eu chamaria de muito bem envelhecida. E mesmo assim - pasmem! - não é por estar ligada à estética armorial. Essa banda foi a mesma da primeira edição; a segunda edição contou com uma banda muito mais moderna, jovem e, talvez, melhor. Provavelmente, a banda do próximo festival será diferente; ou será a mesma da segunda edição, ou será ainda outra, uma terceira (não sei se sou a favor de abrir edital para selecionar o integrantes da banda, pensarei mais sobre isso e talvez escreva algo depois). Bom, nem mesmo culpar a banda parece ser uma ideia razoável.
            Pra terminar, queria dizer que prefiro ficar com o armorial, do que com o rap americano.

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